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No início do século XIX Sigmund Freud criou a psicanálise e teorizou sobre o inconsciente.  Em sua prática médica, Freud se deparava com toda uma classe de sintomas que a medicina não compreendia e descobriu que estavam ligados a motivos inconscientes. Se surpreendeu quando as dores e os sintomas dos pacientes se dissolviam na medida em que faziam uso da fala. Havia algo nesses sintomas que estava relacionado à linguagem.

 

No processo de constituição psíquica, alguns pensamentos e afetos são expulsos para fora da consciência, mas seguem presentes, inconscientemente. Esse campo psíquico inconsciente, de maneira complexa, faz parte constituinte de quem somos, fundamenta a maneira pela qual cada um se relaciona consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Freud aponta para algo que pulsa em nós, mas que escapa à consciência. 

 

Aquilo que não é elaborado e trabalhado internamente, marca presença por outras vias, como por meio do sentimento de angústia ou sintomas que se apresentam no corpo físico. Com frequência as pessoas se percebem aprisionadas em situações que se repetem ao longo de suas vidas, situações que vêm acompanhadas de muito sofrimento. A experiência psicanalítica demonstrou que o sujeito pode sofrer e se satisfazer (inconscientemente) ao mesmo tempo e pelo mesmo motivo. 

 

A psicanálise é uma investigação acerca dessa estrutura inconsciente. O tratamento ocorre por meio da palavra, conduz o ser falante a escavar a sua própria existência e encarar o que ali encontra. O analista proporciona um lugar seguro de escuta para o ser que se abre em seus mais íntimos e confusos pensamentos, e o acompanha no atravessamento de enigmas. O processo de análise opera no sujeito uma reintegração da sua própria história e resulta numa mudança crucial: a mudança de posição do sujeito em relação àquilo do qual se queixa. A partir disso, novas possibilidades de caminhos se abrem a serem trilhados.

 

“O fato de que o sujeito revive, rememora, os eventos formadores da sua existência, não é, em si mesmo, tão importante. O que conta é o que ele reconstrói.” (LACAN, J. 1954, p. 23, in Sem. 1)